quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Ouvindo Cavalos - Doma Racional

Falando com o Emanuel Botelho dos Santos, excelente cavaleiro que entende o cavalo muito mais do que de cavalo, sobre o objetivo principal da doma racional, assim falou ele: "O objetivo principal é o adestramento sem o uso da violência. Se violência fosse eficiente na educação, os filhos dos bandidos seriam os homens mais corretos do mundo".


Tanto para gente como para animais, o respeito se fundamenta no temor ou no amor. Entretanto, o respeito baseado no medo dura pouco, porque a autoridade fundamentada na ameaça do castigo é falsa e fugaz como a autoridade do ditador: só dura enquanto ele puder esconder suas próprias fraquezas. É por isso que muitos velhos terminam em asilos: não se fizeram respeitar por amor, mas por medo do castigo. Quando perdem o poder de castigar, perdem o respeito dos filhos.


O princípio do adestramento racional é o conhecimento da etologia - comportamento animal. Deve-se partir do fato que um ano para um cavalo corresponde a três no ser humano. Assim, um potro de 4 anos tem a maturidade cerebro-emocional de um menino de 12. Por isso não se pode admirar se um potro recém iniciado, aí pelos três a quatro anos, tenha medo de tudo. "Para ele, tudo é bicho" - diz o amigo Artur.


É devido ao desconhecimento destes fatos que a doma racional é tão criticada. Monty Roberts, "o homem que ouve cavalos", indiscutivelmente o mais famoso iniciador de cavalos, do mundo, também sofreu com esta incompreensão. Durante quase três décadas em que "iniciava" (prefere o termo "iniciar" ao invés de "adestrar" ou "domar") cavalos, sempre fazia a portas fechadas. "Já me provaram que as pessoas não aceitam meus métodos" - argumentava ele. O seu próprio pai, depois de vê-lo iniciar seis cavalos numa única tarde, qualificou a atividade do filho como "suicida".
A intolerância preconceituosa sempre foi o maior empecilho para a divulgação de qualquer idéia nova que mexe com estruturas antigas. Por causa disso Sócrates tomou cicuta, Giordano Bruno foi queimado numa fogueira, Cristo foi crucificado. O mesmo que Monty Roberts sentiu o Fernando Noailles Olivé, um dos maiores entendedores de doma racional, do mundo. Certa ocasião, sendo entrevistado pelo site Dazelo, na Espanha, perguntaram-lhe se alguma vez, quando falava sobre a doma racional, ele teve a impressão de estar pregando no deserto. Assim respondeu Fernando:
"Sim, muitas vezes. Porém é algo que se deve assumir desde o princípio. Há muitas pessoas que se escudam em te ridicularizar. Pessoas disseram que não concordam comigo, pois o sistema que eles utilizam é o de castigar. E, além disso, que gostavam castigar: uma confissão de patologia emocional ao sentir prazer com a dor alheia. Pois bem - lhes respondo - quando eu não sabia domar, também utilizava o mesmo sistema. Agora que aprendi um pouco, mudei. E desafio que nos tragam um potro para cada um, para ver até onde chega um e outro com um dia de trabalho."

Por Eduardo Festugato
Portal do Cavalos Crioulos

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