sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Cavalos, butias, pampa, avio, munaia, Brasil!







BRASIL BRASILEIRO
Estive recentemente na Serra Gaúcha para 4 dias de cavalgada por aquela bela paisagem. Aprendi várias coisas. Ouvi e vi curicacas pica-paus do campo, gralhas azuis, noivinhas do rabo preto, carcarás, gaviões chimango, saracuras, sabiás do campo, pica-paus verde rajado, siriemas, graxains do mato, jacus, veados do campo. Vi a majestosa araucária. Aprendi que nosso idioma é tão rico, que precisei de tradução para enterder as músicas. Versos como "onde se embala minha alma de campeiro, atraído pelos luzeiros das miradas querendonas"," me enfrasco e canto um tango pras gurias, que sou filho de uma tia da empregada do gardel", "me lendo a mão uma cigana disse tudo, ou capam esse cuiudo ou emprenho toda a nação". Músicas tristes, engraçadas, alegres, de todos os tipos, mas todas elas mostram o amor pelo campo, a identidade gauchesca, a influência dessa nossa América tão latina. Aprendi que o aperto de mão de um campeiro é forte, sincero, e que realmente sela uma amizade. Ouvi termos como "Quero comer um vazio" (comer fraldinha),
Gaudério, (gaúcho sem eira nem beira que vive solto),
Pingo- (cavalo bom)
Tapado de nojo ( a forma mais definitiva de detestar algo), "Me cairam os butias do bolso" (fiquei impressionado), "Avio" (isqueiro),
"Demorou um eito" (demorou muito)
"Munaia" (baita, muito)..
"Pilchado" (vestido com a vestimenta completa do Gaúcho)
Aprendi que cavalos usam arreio, basto, serigote, casquinho . Aprendi que suas pelagens são diferentes das que conheço: gateado rosilho ruivo, baio ruano, palomino, picaço, zaino...
Aprendi que o cavalo crioulo é talvez uma das melhores raças que já vi: fortes, destemidos, rápidos e muito, muito meigos, além de extremamente resistentes. Aprendi tanto. Mas aprendi sobretudo que meu país vale a pena, que minha ascendência tem valor, que meu continente é rico em sons, nuances, fauna e flora. Que cada cantinho tem um valor inestimável e que nosso povo tem que ser cultuado. Ir a Paris deve ser maravilhoso, sem dúvida. Mas ir ao BRASIL é mais maravilhoso ainda. Obrigada Paulo Hafner e Angela Hafner por me mostrarem isso. Que a Campofora continue abrindo o coração das pessoas. Com certeza hoje, sou uma pessoa melhor.


Renata Varella

Michael Moran, Paulo Lopes e Grillo nos arranjos do novo álbum Gringo!














Na hora de arranjar, o que importa é a habilidade de variar. Michael Moran, Grillo e Paulo Lopes estão se virando como bons arranjadores. Nada como ter um alto grau de criatividade.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Eu, etiqueta - Carlos Drummond de Andrade

Ilustração Arte Ray Titto

Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
Trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia,
tão diversos de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
Ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou – vê lá – anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que nos rosto se espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco da roupa
resumia uma estética?
Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrina me tiram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.

sábado, 8 de novembro de 2014

O uso de tintas no corpo



O corpo é um instrumento de produção na vida indígena, é material simbólico que passa a característica mais marcante da cultura dos índios, a pintura corporal.
O uso de tintas no corpo para se expressar, transmite valores e diversos significados diferentes. Pintam o corpo para defendê-lo do sol, dos insetos, para enfeitá-lo, dos maus espíritos, e para cada evento há uma forma de se pintar: luta, caça, casamento, morte. As cores mais usadas pelos índios para pintar seus corpos são o vermelho de urucum, o negro esverdeado da tintura do suco de jenipapo e o branco da tabatinga. A escolha destas cores é super importante, já que o gosto pela pintura corporal está também associada a alegria de cores vivas.

O dobro e o banjo de Paulo Lopes. Huapango Tex-Mex no álbum Gringo!














Huapango? Também é conhecido pelo termo São Huasteco. É muito tocado nas regiões de Veracruz, San Luis Potosí, Hidalgo, Tamaulipas, Puebla, Guanajuato e Querétaro.

A origem do huapango foi no século XVII e é um produto da fusão das tradições musicais dos nativos indígenas com pequena influência dos europeus. Para um "huapangueiro", essas influências só existem no ritmo 6 para 8.

A daça marcada pelo sapateado, lembra muito nossa Catira e esse sapateado desempenha um papel muito importante.

Um conjunto tradicional de huapangueros é chamado "Huasteco Trio". Geralmente formado por um huapanguero cantante, uma guitarra de cinco ou oito cordas de corpo volumoso com maior ressonância que o violão e uma Jarana Huasteca. Estes dois instrumentos fazem o ritmo e a harmonia enquanto o violino executa a melodia. No próximo álbum da banda, o Huapango é mais uma inspiração.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A taxa de crescimento da população indígena...

Em 1500, quando os portugueses chegaram ao Brasil, estima-se que havia por aqui cerca de 6 milhões de índios.
Passados os tempos de matança, escravismo e catequização forçada. Nos anos 50, segundo o antropólogo Darcy Ribeiro, a população indígena brasileira estava entre 68.000 e 100.000 habitantes. Atualmente há cerca de 280.000 índios no Brasil. Contando os que vivem em centros urbanos, ultrapassam os 300.000. No total, quase 12% do território nacional, pertence aos índios.
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, havia em torno de 1.300 línguas indígenas. Atualmente existem apenas 170. O pior é que cerca de 35% dos 210 povos com culturas diferentes têm menos de 200 pessoas.
Será o fim dos índios?
Apesar do "Dia do Índio", que é comemorado no dia 19 de Abril, não tem nada para se comemorar. Algumas tribos indígenas foram quase executadas por inteiro na década de 70 em diante, enquanto estavam fora de seu habitat, quase chegaram a extinção, foram ameaçados por epidemias, diarréia e estradas. Mas hoje, o que parecia impossível está acontecendo: o número de índios no Brasil e na Amazônia está aumentando cada vez mais. A taxa de crescimento da população indígena é de 3,5% ao ano, superando a média nacional, que é de 1,3%. Em melhores condições de vida, alguns índios recuperaram a sua auto-estima, reintroduziram os antigos rituais e aprenderam novas técnicas, como pescar com anzol. Muitos já voltaram para a mata fechada, com uma grande quantidade de crianças indígenas.
"O fenômeno é semelhante ao baby boom do pós-guerra, em que as populações, depois da matança geral, tendem a recuperar as perdas reproduzindo-se mais rapidamente", diz a antropóloga Marta Azevedo, responsável por uma pesquisa feita pelo Núcleo de Estudos em População da Universidade de Campinas.
Com terras garantidas e população crescente, pode parecer que a situação dos índios se encontra agora sob controle. Mas não! O maior desafio da atualidade é manter viva sua riqueza cultural.

Saulo Cardoso gravando Gringo! No Studio GR01







O novo álbum da banda Rioclaro "Gringo!" não segue os caminhos da música rural. Segue os caminhos da banda Rioclaro, um caminho das águas do degelo da Cordilheira dos Andes, dos desertos de sal do Atacama, das minas de cobre de Potosí, das canoas que descem o rio Amazonas trazendo esperança e dor de todos os povos originários.