quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Ano Novo? Oração pra amanhã e pra noite que se aproxima

Escrevendo como um louco pra tapar os buracos. Este vazio na boca

do estômago. Nascemos num mundo sem deus e a luz é abundante, mas insuficiente pra aquecer nossas almas congeladas de pavor. Oito-Olhos é apenas alguém que acredita no mundo e na vida, atravessa todos os túneis e considera a morte, a sua meu amor e a de todos outros, um fato consumado. Entrevejo anjos se dissolvendo nessa luz fraca pra aquecer nossos corações, mas forte pra destruir o tênue fio do desejo. Como o desejo é forte pra me fazer sentir que sou apenas um e um é pouco e o tempo não é curto é apenas fechado, uma sala de paredes que se fecham sobre você e você quer saltar fora do tempo. Como o desejo é fraco pra dar conta de tudo isso, o desejo nada pode contra essa luz opaca e frágil e ainda assim somos mais frágeis que ela e mais frágeis que o desejo. Quais são seus planos pra esta noite? Pra amanhã? Alguma viagem impossível, um reencontro: o tempo não se deixa enganar. Preenchendo o vazio

de sentido com palavras. E como as palavras são fracas, ainda mais fracas que nós, mais fracas que a nossa voz, onde elas deslizam e se dissolvem, à luz fraca do dia. E como você gostaria que as coisas falassem, não só as flores, que tudo falasse, ao menos seria menor a solidão. Mas nada fala, tudo é rumor. Tudo é desordem e as pessoas tentando se esconder disso dando ordens. Nós também não falamos, apenas tentamos tapar os buracos com palavras. Alguma ação que me faça esquecer que o universo é surdo que estamos sozinhos que a luz é forte pra meus olhos, mas fraca pro meu coração e que a luz também não diz nada. O presente é frágil, a vida é frágil, cada gota de alegria é frágil e no entanto a memória é ainda mais frágil e o medo é maior porque é a forma de lucidez que resta pra habitantes cegos de um mundo vazio

e como todas as noites rezo (pra quem?): só mais um dia, mais uma noite, mais um dia, mais uma noite, mais um dia de alegria é o que peço ao Acaso que nos persegue no claro intuito de criar mania de perseguição & delírios coletivos. Acreditar em palavras é a pior forma de loucura. Ainda assim rezo e entrego aos deuses, sejam quais forem, ao asfalto, às luzes, às armas de fogo, às mesas, ao entardecer vermelho da cidade meu pedido solene: só mais um dia, mais uma noite de alegria.

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