sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Meus amigos



Meus amigos, alegria
Em desespero, festa
Pela falta de motivo
De festejar – felicidade
Como desafio e provocação
Arrancada à fórceps
Dos pesadelos suicidas.

Meus amigos, como vocês serão
Sóbrios? Não sei, não quero saber
E tenho raiva de quem sabe.

Meus amigos, beber
Até cair no meio do caminho
Como as pedras
Chutadas pelo poeta.

Meus amigos, tudo
Deu em nada
Menos ainda
Quase nada: sempre resta
Alguma coisa, um vestígio
Dos projetos inconcluídos
E o amor, sempre,
Será aquele prato
Servido frio.

Meus amigos não são
O áspero edifício, menos
Ainda, o muro:
A rachadura, a fresta
A goteira, o terreno baldio.
Não são também o asfalto,
O caminho: o interstício
Entre a sola do sapato e o chão
O vazio que ressoa
Uma despedida e um sopro
No coração.

Meus amigos, sem nome
Próprio, o que pulsa
É o que há
De anônimo em tudo,
Espuma, superfície fina
Do oceano, da vida
A qualquer coisa
E o quase nada, o nunca
Serão ninguém, a falta
De rumo, o que se define
Pelo que se não é.

Meus amigos, cabelos azuis
E o fogo-fátuo
E as pedras agudas
Polidas na frieza
Do rio
E o merecido esquecimento.

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